Foi numa noite qualquer, num bar de hotel, um “happy-hour” com meus colegas de trabalho – éramos todos tripulantes de voos internacionais da LATAM. Bebíamos e nos divertíamos, contando nossas aventuras escabrosas ocorridas durante o trabalho – todos solteiros, muitas horas juntos, longe da família e da terra natal, acontecia cada coisa….

Eu fazia minha narrativa e, propositalmente, contava sobre um colega por quem me sentia atraída. Quem sabe fazendo um jogo aberto, rolasse alguma coisa!

Aconteceu num voo super longo, acho que SP-Istambul, em que Ramirez era o chefe dos comissários, e eu estava na equipe dele, cobrindo a classe executiva.  Desde o início do embarque, percebi Ramirez envolvido por um bom tempo com um casal que tentava acomodar suas bagagens de mão. Estavam animados, sorridentes, mais pareciam velhos amigos; um comportamento bem distinto do recomendável no nosso trabalho.

Intuiu que Ramirez estivesse interessado pela mulher. Sabe aquele tipo “uda”?  Cabeluda, classuda, bunduda … Pois então, dessas! O tipo da mulher que não passa despercebida nunca! E ele, mesmo quando sentado, ficava em sua cadeira, cortinas abertas, os olhos sem desviar da terceira fila de assentos, onde eles estavam acomodados.

No início da viagem, ela conversou bastante com o homem ao seu lado, um jovem, bonitão, bem vestido, todo estiloso, seguramente mais jovem que ela. Após o jantar, ele se ajeitou para dormir, ela tentava ler. Mas estava visivelmente inquieta.

Quando terminamos as tarefas do jantar, eu já estava cansada e com sono, cheguei no nosso espaço e já fui puxando a cortina que nos isolava do corredor de passageiros. Ramirez parecia não se importar com nada, estava completamente distraído e disperso, e nem disfarçava o foco de sua atenção. Aquilo já estava me deixando irritada, trabalhando por mim e por ele, que estava sempre de altos papos com o casal, que estavam chamando para uma coisa outra.

Falei baixinho para que ninguém ouvisse:

– Por favor, Ramirez, chega! Você pode azarar quem quiser, mas vou fechar as cortinas! Eu não sou obrigada a ficar exposta durante meu descanso!

Ele simplesmente deu de ombros e levantou-se. Saiu do nosso espaço, fechando as cortinas, sem me dizer uma única palavra.

Fiquei ainda algum tempo acordada, tempo suficiente para ouvir uma movimentação no corredor. Alguém se levantou, e caminhou em direção ao WC. Provavelmente a mulher com quem Ramirez flertava, pensei.  Dormi.

Fui acordada com o retorno do nosso amigo, que ainda tentava se recompor. Seu rosto não deixava dúvidas, quanto ao que tinha estado fazendo. Não sei quanto tempo havia transcorrido.

– Que o comandante não saiba o que você andou fazendo! – resmunguei.

– Nem por sonho ele pode saber! Mas valeu muito a pena! Risco calculado!

– Pelo visto, paixão à primeira vista! – brinquei.

– Sabe quando rola química? Quando o toque já te incendeia? Só o olho no olho já excita! – Ele disse, completamente empolgado.

Fiquei impressionada com a paixão fulminante que estava rolando. Senti até inveja da cabeluda. Ela nem era muito bonita. Era “uda” em tudo, mas não exatamente bonita.  Ela em poucas horas, já havia conseguido o que eu vinha tentando a meses, sem sucesso. Acho que feia eu não sou, mas ainda que várias vezes eu tenha me insinuado, dado a entender que estava a fim dele, sempre fui ignorada.

– Medo de rolar algo mais comprometedor com a colega de trabalho! – falou brincando uma colega.

– Do que você está falando? – era o Ramirez, que pela primeira vez interrompia a conversa, com aparente surpresa, ou indignação com o que eu acabara de revelar.  Até ali ouvira tudo com interesse, parecendo se divertir com a minha narrativa!

Lancei um olhar fulminante para ele. Naquele momento, depois de alguns drinks, minha língua e minhas emoções estavam descontroladas.

– Deixa eu terminar de contar teu causo, por favor! –

Ele me olhou e tranquilamente disse:

– Eu não estava apaixonado, ou algo parecido, mas confesso que senti algo como curiosidade!

Não entendi nada. Perguntei:

– Como assim?

– Eu não estava flertando com a cabeluda, e sim com o parceiro dela, que por sinal é modelo fotográfico! Fizemos um sexo selvagem, foi quando descobri que sou gay! Ou talvez, bi! Sei lá, inda continuo me encontrando com ele, quando nossas escalas permitem! Estou me descobrindo… – Ramirez tinha um sorriso maroto no rosto.

Todos caíram na gargalhada. Olhei para ele sem acreditar. Que papelão…o meu!

FIM

 

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